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Em 2016, Francisco Merlino, químico ambiental da Universidade de Florença, e o designer de móveis Gianpiero Tessitore fundaram a Vegea, uma empresa de tecnologia que recicla resíduos descartados da produção de vinho, como cascas e sementes de uva, provenientes de vinícolas italianas. O processo de produção inovador é utilizado para fabricar um "couro de bagaço de uva" 100% vegetal, sem o uso de elementos químicos nocivos e com textura semelhante à do couro. No entanto, é importante ressaltar que, embora esse tipo de couro seja feito de recursos recicláveis, ele não se degrada completamente, pois recebe a adição de uma certa quantidade de poliuretano (PUD) em sua composição.

 Segundo cálculos, para cada 10 litros de vinho produzidos, são gerados cerca de 2,5 litros de resíduos, que podem ser transformados em 1 metro quadrado de couro de bagaço de uva. Considerando o tamanho do mercado global de vinho tinto, esse processo ainda representa um dos avanços mais importantes em produtos ecologicamente sustentáveis. Em 2019, a marca de automóveis Bentley anunciou que havia escolhido a Vegea para o interior de seus novos modelos. Essa colaboração é um grande incentivo para todas as empresas inovadoras em tecnologia similar, pois significa que o couro sustentável já pode ser utilizado em áreas-chave, abrindo novas oportunidades de mercado nesse setor.

couro de folha de abacaxi
A Ananas Anam é uma marca que nasceu na Espanha. Sua fundadora, Carmen Hijosa, ficou chocada com os diversos impactos da produção de couro no meio ambiente enquanto trabalhava como consultora de design têxtil nas Filipinas. Assim, ela decidiu combinar os recursos naturais locais das Filipinas para desenvolver um produto mais sustentável: materiais para vestuário sustentáveis. Inspirada nos tecidos tradicionais feitos à mão nas Filipinas, ela utilizou folhas descartadas de abacaxi como matéria-prima. Purificando as fibras de celulose extraídas das folhas e processando-as em materiais não tecidos, ela criou um couro com 95% de conteúdo vegetal. O produto foi patenteado e recebeu o nome de Piatex. Cada peça padrão de Piatex equivale ao consumo de 480 folhas de abacaxi descartadas (o equivalente a 16 abacaxis).

Segundo estimativas, mais de 27 milhões de toneladas de folhas de abacaxi são descartadas anualmente. Se esses resíduos pudessem ser utilizados para a fabricação de couro, grande parte das emissões da produção tradicional de couro seria certamente reduzida. Em 2013, Hijosa fundou a Ananas Anam Company, que coopera com fábricas nas Filipinas e na Espanha, bem como com o maior grupo de plantio de abacaxi das Filipinas, para comercializar o couro Piatex. Essa parceria beneficia mais de 700 famílias filipinas, permitindo que elas obtenham renda extra com o fornecimento de folhas de abacaxi descartadas. Além disso, os restos da planta após o processamento são utilizados como fertilizante. Hoje, o Piatex é utilizado por quase 3.000 marcas em 80 países, incluindo Nike, H&M, Hugo Boss, Hilton, entre outras.

couro de folha
Couros vegetais feitos de madeira de teca, folhas de bananeira e folhas de palmeira também estão ganhando popularidade rapidamente. O couro de folha não só possui características como leveza, alta elasticidade, grande durabilidade e biodegradabilidade, como também apresenta uma vantagem muito especial: a forma e a textura únicas de cada folha ficam impressas no couro, tornando cada capa de livro, carteira e bolsa feita de couro de folha um produto exclusivo, único no mundo.

Além de evitar a poluição, o aproveitamento de diversas folhas para a produção de couro também é muito benéfico para a geração de renda em pequenas comunidades. Como a matéria-prima para esse couro são as folhas caídas na floresta, marcas de moda sustentável podem cooperar com áreas economicamente desfavorecidas, contratando moradores locais para plantar árvores, cultivar a "matéria-prima" e, em seguida, coletar as folhas caídas e realizar um processamento preliminar. Dessa forma, todos saem ganhando: aumentam a absorção de carbono, geram renda e garantem um fornecimento estável de matéria-prima. Isso pode ser chamado de "se você quer enriquecer, plante árvores primeiro" na indústria da moda.

couro de cogumelo

O couro de cogumelo também é um dos "couros veganos" mais populares atualmente. O micélio de cogumelo é uma fibra natural multicelular formada pela estrutura radicular de fungos e cogumelos. É resistente, facilmente degradável e sua textura apresenta muitas semelhanças com a do couro. Além disso, como os cogumelos crescem rapidamente e de forma "despreocupada", adaptando-se muito bem ao ambiente, os designers de produto podem "personalizar" os cogumelos diretamente, ajustando sua espessura, resistência, textura, flexibilidade e outros atributos. Isso permite criar o formato desejado para o material, evitando o consumo de muita energia exigido pela pecuária tradicional e aumentando a eficiência da produção de couro.

Atualmente, a principal marca de couro de cogumelo no setor é a Mylo, desenvolvida pela Bolt Threads, uma startup de biotecnologia com sede em São Francisco, EUA. Segundo informações, a empresa consegue reproduzir em ambiente interno o micélio que cresce em seu ambiente natural com a maior precisão possível. Após a colheita do micélio, os fabricantes podem usar ácidos suaves, álcoois e corantes para estampar o couro de cogumelo, simulando pele de cobra ou crocodilo. Atualmente, marcas internacionais como Adidas, Stella McCartney, Lululemon e Kering já começaram a colaborar com a Mylo na produção de roupas em couro de cogumelo.

couro de coco

Zuzana Gombosova e Susmith Suseelan, fundadoras do estúdio Milai, com sede na Índia, têm trabalhado na criação de alternativas sustentáveis ​​a partir do coco. Elas colaboraram com uma fábrica de processamento de coco no sul da Índia para coletar a água e a casca descartadas do coco. Através de uma série de processos, como esterilização, fermentação, refinamento e moldagem, o coco foi transformado em acessórios com aparência de couro. Além de ser impermeável, esse couro também muda de cor com o tempo, conferindo ao produto um grande apelo visual.

Curiosamente, os dois fundadores inicialmente não pensaram que poderiam produzir couro a partir de cocos, mas, à medida que persistiam nas tentativas, gradualmente descobriram que o produto experimental em suas mãos se assemelhava muito a um tipo de couro. Após perceberem as semelhanças do material com o couro, começaram a explorar mais a fundo as propriedades do coco nesse sentido e continuaram a estudar outras propriedades complementares, como resistência, flexibilidade, tecnologia de processamento e disponibilidade do material, para torná-lo o mais próximo possível do couro verdadeiro. Isso pode revelar muito para muitas pessoas: o design sustentável não se limita à perspectiva de produtos existentes. Às vezes, concentrar-se no design de materiais também pode trazer ganhos consideráveis.

Existem muitos tipos interessantes de couro sustentável, como couro de cacto, couro de maçã, couro de casca de árvore, couro de urtiga e até mesmo "couro biofabricado" feito diretamente a partir da engenharia de células-tronco, etc.